terça-feira, 22 de outubro de 2013

Guerra pela humanidade

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"A noção de inimigo da humanidade é efectivamente uma contradição nos termos dado que, por definição, a humanidade não pode ter inimigos entre os humanos. É por causa disso que as guerras em nome da humanidade resultam indubitavelmente na negação da qualidade de ser humano ao inimigo: bater-se em nome da humanidade leva necessariamente a pôr os seus inimigos fora da humanidade. Ora, contra aquele que foi posto fora da humanidade, tudo se torna permitido. Desde logo, o inimigo desta não é mais um simples adversário do momento, que poderia de igual forma transformar-se amanhã em aliado, mas uma figura do Mal, um «inimigo do género humano», um criminoso a punir, podendo ser empregues todos os meios que permitam subjugá-lo. (...) Combater em nome da humanidade significa, de facto, colocarmo-nos em posição de decretar quem é humano e quem não o é. Tal é o paradoxo: todo o discurso que pretende apagar as fronteiras entre os homens para estender a noção de «nós» à totalidade da espécie humana resulta na recriação, no próprio seio da humanidade, de uma linha de fractura e de exclusão mais radical do que as outras. «Com efeito não é senão com o homem entendido como humanidade absoluta que surge o inverso desse mesmo conceito, o seu novo inimigo específico, o homem inumano (Unmensch)» escreve Schmitt. A guerra em nome da moral é pois o exemplo acabado da guerra mais inumana. O universalismo abstracto faz dos adversários inimigos absolutos e transforma as guerras «humanitárias» em guerras de extermínio."

Alain de Benoist
in «Guerra Justa, Terrorismo, Estado de Urgência e Nomos da Terra — A actualidade de Carl Schmitt», Antagonista, 2009.

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