segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Entrevista exclusiva a Davide Di Stefano, elemento da Frente Europeia de Solidariedade pela Síria

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Uma delegação italiana da Frente Europeia de Solidariedade pela Síria visitou a Síria no final do último mês de Agosto, enquanto nos Estados Unidos o Presidente Barack Obama anunciava uma intervenção militar iminente. Os activistas italianos estiveram em Damasco e Tartus, foram recebidos pelas autoridades sírias e puderam testemunhar em primeira mão a situação do povo sírio num violento conflito que já causou milhares de mortos e milhões de deslocados. Numa entrevista exclusiva, o Dissidente.info fez algumas perguntas Davide Di Stefano, um dos elementos da Missão que esteve presente na Síria.

Estiveste numa missão a Damasco, no final do mês de Agosto, quando havia uma séria ameaça de uma intervenção militar norte-americana na Síria. Podemos dizer que estavas no olho do furacão. Qual era a sensação de estar na capital da Síria naquela altura?
Havia com certeza um pouco de apreensão em toda a delegação, visto que a imagem que chegava a Itália através dos meios de comunicação social ocidentais era a de um país totalmente destruído. Ainda para mais tendo em conta que chegámos a Damasco na sexta-feira, 30 de Agosto, dois dias depois de Obama ter anunciado o início iminente de uma intervenção militar no país. Mas para dizer a verdade, o nosso maior medo era que a missão fosse cancelada por razões de segurança.

Damasco é uma cidade cercada. Apesar dos avanços do exército sírio, ainda há diversas áreas à volta de Damasco controladas pelos rebeldes. Como é que a cidade estava a lidar com isso? Sentiste escassez de alimentos na cidade? Havia falhas de electricidade ou interrupções no abastecimento de água?
A imagem transmitida por Damasco, pelo menos na maior parte do seu território, é a de uma cidade sitiada mas paradoxalmente “calma”. Passeando nas ruas da cidade, o maior medo é sempre o de um possível atentado. Nos subúrbios a Leste da cidade, como no bairro de Jobar, é onde a situação continua mais quente. De resto, a população parece enfrentar a situação com aparente tranquilidade, apesar das dificuldades económicas e práticas envolvidas. Existe racionamento de energia eléctrica e de alguns bens de primeira necessidade, sobretudo medicamentos e leite em pó, que escasseiam. A recordar que existe uma guerra existe a artilharia governamental, que das posições do Monte Quasioun fustiga os rebeldes entrincheirados nos subúrbios de Leste, frequentemente escondidos em túneis subterrâneos.

Apesar da ameaça de um ataque militar por parte dos governos de alguns países ocidentais, o povo sírio tinha ideia que no Ocidente a opinião pública está contra uma potencial intervenção militar?
O povo sírio, assim como as autoridades, conhecem a diferença entre os nossos governantes e maior parte da opinião pública ocidental. Os duros golpes recebidos por Obama a nível político, tal como a posição de não-intervenção da Itália e da Alemanha e a reprovação do Parlamento inglês geram confiança. Quando estávamos na Síria, a televisão pública e os principais jornais deram muita importância à nossa missão, também para mostrar à população que na Europa não estão todos alinhados Também a posição do Papa e o jejum contra a guerra tiveram muita importância na Síria, principalmente nos dias em que lá estivemos.

Durante a missão tiveste oportunidade de conhecer diversos elementos do exército sírio. Estiveste até no funeral de um jovem soldado, quando estavas a caminho de Tartus. Qual é o espírito do exército sírio? As tropas estão moralizadas para derrotar os fundamentalistas islâmicos ou temiam um ataque americano?
O exército sírio é composto por muitos soldados válidos e convencidos das suas próprias razões. Existe um sentimento muito difundido por toda a população de que um ataque contra a sua nação representaria uma grave injustiça e que nessa eventualidade teriam todo o direito a defender-se. Como muitas vezes acontece no Médio Oriente, o exército é o pilar do Estado. Cerca de 80% do exército é composto por elementos de etnia alauita, a mesma de Assad. Entre as tropas existe algum cansaço, mas a verdade é que 28 meses de guerra civil são cansativos para qualquer um. Até ao dia 21 de Agosto, o exército governamental tinha reconquistado muitas cidades e posições, e os rebeldes estavam a atravessar uma fase péssima. A seguir ao alegado ataque com armas químicas, as coisas mudaram e a atenção focou-se num possível ataque americano, juntamente com a Grã-Bretanha e a França. Esta possibilidade gerou muita preocupação, mas os sírios mantêm-se confiantes, até porque contam com o apoio dos seus aliados, a Rússia e o Irão, a força e solidez da própria nação e o receio de Israel de sofrer um ataque com mísseis.

Quais os planos para futuras missões da Frente Europeia de Solidariedade coma Síria?
Esta foi a primeira missão da Frente Europeia de Solidariedade com a Síria e teve um grande significado político e simbólico, representando uma iniciativa de solidariedade directa no momento mais difícil. Para o futuro, sobretudo através da associação Solidarité Identités, temos a intenção de realizar uma missão de solidariedade nos próximos meses. Temos óptimos contactos, sobretudo em Tartus, que sendo o segundo maior porto da Síria, reúne boas condições para o envio de bens de primeira necessidade como leite em pó e medicamentos.

Por último, se pudesses enviar uma mensagem ao Presidente dos Estados Unidos depois da tua experiência na Síria, o que lhe dirias?
Para devolver o Prémio Nobel da Paz.

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