quinta-feira, 14 de julho de 2011

Os anos do Integralismo

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"Os jovens intelectuais do Integralismo Lusitano eram, à partida, um grupo de companheiros de Coimbra com mais afinidades geracionais, estéticas e literárias que político-doutrinárias: Sardinha tinha sido republicano convicto e Luís de Almeida Braga participara nas incursões. Com Rolão Preto e Domingos de Gusmão Araújo, Almeida Braga fundara na Bélgica uma revista de exilados e, no final de 1912, Sardinha escrevia a comunicar-lhe a sua «conversão à Monarquia e ao Catolicismo — as únicas limitações que o homem, sem perda de dignidade e orgulho, pode ainda aceitar». E abençoava «esta República trágico-cómica que [o vacinara] a tempo pela lição da experiência...».
Em Setembro de 1913, Sardinha, Hipólito Raposo e Alberto de Monsaraz juntaram-se na Figueira da Foz para cogitar e executar o projecto da Nação Portuguesa, uma revista de ideias e doutrina política. O primeiro número saiu em 8 de Abril de 1914, tendo como colaboradores, além dos fundadores, Mariotte, João do Amaral, José Pequito Rebelo, Luís de Almeida Braga, Simeão Pinto de Mesquita e Francisco Xavier Cordeiro.
Dando conta dos princípios orientadores da revista e do movimento nascente, o editorial de Hipólito Raposo expunha as bases de uma doutrina assente nos princípios da monarquia orgânica, tradicionalista e antiparlamentar, baseada no poder pessoal do Rei como orientador da «função governativa suprema». O papel do monarca desdobrava-se nas funções executivas da «defesa diplomática e militar», da «gestão financeira geral» e da «chefia do poder judicial». Na outra face do poder, a descentralização assentava num sistema de reconhecimento dos corpos intermédios — corporações, sindicatos, famílias, paróquias, províncias, municípios. Quanto às questões espirituais, confiava-se na Igreja como parceira privilegiada do poder político.
Além da publicação da Nação Portuguesa, os integralistas empenharam-se numa obra de combate cultural para demonstrar a falsidade e o prejuízo para a nação do governo conduzido pelos princípios democráticos. Embora o trio Sardinha/Pequito Rebelo/Hipólito Raposo fosse o grande dinamizador do movimento, toda a equipa se aplicou no combate e a oficialização do Integralismo Lusitano como movimento político veio em 1916, com a constituição da Junta Central. A 2 de Fevereiro de 1917 saía o primeiro número do diário A Monarquia, um órgão doutrinário e crítico de intervenção quotidiana que vinha substituir a Nação Portuguesa.
O papel dos integralistas na crítica ao republicanismo democrático transcendeu a questão do regime e avançou para a real contradição política da época: entre o nacionalismo autoritário, corporativo, antiparlamentar e antipartidário e o democratismo individualista parlamentar, liberal e igualitário. Ao trabalharem na desmontagem de uma ideologia e de uma prática que assimilavam à demagogia no poder e à experiência republicana, os integralistas abriram caminhos para uma alternativa, não apenas dinástica, mas sobretudo política. Uma alternativa que estava tão longe do parlamentarismo republicano como do liberalismo constitucional monárquico. Assim, e como a acção dos monárquicos da República tornava evidente, a questão da restauração ia subtilmente perdendo importância."

Jaime Nogueira Pinto
in "Nobre Povo — Os Anos da República", A Esfera dos Livros, 2010.

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