segunda-feira, 16 de maio de 2011

O tempo dos demagogos

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"A ditadura carece de Demagogia no discurso porque suprime as oposições sociais e políticas, enquanto a Democracia as cultiva e incentiva.
Não é só de hoje que o país encontra demagogos. A experiência histórica portuguesa do final da monarquia e durante toda a República parece mais uma parada de pavões que uma ordeiro formigueiro de atarefados trabalhadores e soldados.
Portanto, os regimes demagógicos são a especialidade portuguesa, que contrastam só com ditaduras famosas e que têm nome: a ditadura de João Franco, ministro do Rei Dom Carlos, a Ditadura de Sidónio Pais, a Ditadura de Salazar. Esta experiência de Ditaduras também é portuguesa e em geral partilhada com outros países do globo, embora a análise do tipo de regime caiba por inteiro a Carl Schmmit, no seu ensaio de Doutoramento, A Ditadura.
De facto a ditadura carece de Demagogia no discurso porque suprime as oposições sociais e políticas, enquanto a Democracia as cultiva e incentiva. A democracia não representa qualquer ameaça à demagogia, por esta é apenas a sua degenerescência.
Um regime que a própria democracia pode engendrar quando não encontra limites aceitáveis para a mentira razoável. A mentira torna-se a textura da vida política e social, demagogos e povo mentem, não há palavra, há apenas promessas vãs e inúteis e um multiplicar de palavras marteladas, prejudiciais ao entendimento do que se está a passar.
São tempos baixos, assolados por um primarismo atroz na linguagem, acossado por iniciativas necessariamente curtas de vista, devastado por leis iníquas e mentirosas. É o pântano, nem há mar, nem montanha, nem terra firme. E no pântano só prosperam aqueles que pertencem ao núcleo predador das criatura ao pântano: crocodilos, jacarés, lagartos, abutres comedores de carne podre. A mentira gera o seu ciclo de desgraças e quer se queira, quer não, é sempre uma mentira. O pior é que as mentiras tornam-se cada vez mais graves, mais caras, mais hediondas. A experiência em Demagogia das cidades gregas saldou-se pelo apagamento das suas culturas, do seu poder e finalmente do seu nome. As que sobreviveram tiveram de mudar de regime por força dos cidadãos que entendiam ao tempo mais de política que o português médio.
É consensual que a Democracia nos novos tempos sai caro aos países. Cada competição faz gastar fortunas sem se apurar com isso seja o que for, porque tudo depende da resposta que a sociedade deu a perguntam tão simples quanto estas: quem vota? Quem se apresenta para ser votado? Como se apuram os resultados? Um sistemas criam sistematicamente maiorias e não podia deixar de ser assim, outros sistemas como o nosso preparam minorias e governos de minoria, deixando sempre tudo suspenso. É consensual que se em tempos normais isto é difícil de aguentar, em tempos de crises violentas, simultâneas e com colapsos de sectores inteiros, tal sistema é o pior dos piores e por isso eu sempre detestei esta Constituição de Pântano, escrita quando o país era um grande pântano, a aguardar definição entre a planície e a montanha. Apesar de reformada várias vezes continua a ser o mesmo texto imprestável que era ao início.
Permitia tudo, desde os desmandos de Vasco Gonçalves, até golpadas do PCP, passando pela golpada final dos civis ansiosos de se sentar nas cadeiras do poder.
Todavia o que sobre de tudo, num arco partidário arco-íris é a demagogia. Até com as crises, que mais parecem um Maelstrom, os políticos são capazes de fazer demagogia, de se atribuírem culpas, de discutirem necessidades, sem ver o tsunami que aí vem a uma velocidade estonteante e escondendo a situação ao povo votante. Com a múmia a dizer umas palavras de encorajamento e a dar uns conselhos de cães de palha.
De facto chegou-se ao fim do sistema, esgotaram-se as possibilidades e caminhos abertos na revolução do 25 de Abril. Esgotou-se tudo. Abusaram da nossa paciência, foram-nos ao bolso e planeiam saquear-nos.
Mas, a verdade é só uma: O povo merece o que tem.

António Marques Bessa
in "O Diabo", n.º 1789, 12 de Abril de 2011.

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