quarta-feira, 30 de março de 2011

Desabafo final

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"Com o sentido de Estado, patriotismo, inteligência, bom senso e jeito a que nos habituaram os protagonistas principais, estamos em mais uma crise política. No termo dela teremos todos, os cidadãos eleitores, possibilidade de voltar a exercer o nosso dever cívico, a alegria democrática de escolher livremente os nossos representantes. Ou de optar pelo "sagrado direito de não ligar".
Não sei nem me interessam — como à maioria das pessoas normais que restam neste país — as recriminações ou exercícios de estilo de quem tem a culpa de quê e que vão ser, com muita palha e algum lixo, os pratos fortes da campanha.
Talvez até também tenha a minha quota de culpa, pois se não me satisfazem esta classe política e estes partidos, podia ter tentado arranjar outros ou colaborar com quem o quis fazer.
Mas também não é esse agora o ponto, embora a direita tenha culpas neste cenário pelo seu absentismo político-partidário. Tem quem pense, quem historie, quem escreva, quem opine, quem influencie, mas abdicou, desde o 25 de Abril, de ter representação política própria. Assim, resta-lhe ausentar-se, abster-se, ou escolher o mal menor entre o que há. Que é o que foi fazendo.
Mas a ausência dos valores políticos nacionais, que a direita portuguesa em tempos representou, contribuiu para o estreitar das opções políticas entre uma esquerda histórica que nunca se liberta da naftalina comunista, uma esquerda bloquista politicamente correcta, que se preocupa com transcendências como a cor dos pensos rápidos (é discriminatório serem só brancos, vejam-me a profundidade da criatura!); e um centrão oscilante entre o neo-liberalismo de algum PSD e CDS e o socialismo democrático do resto do PSD e do PS. Apesar de nestes partidos — PS, PSD, e CDS — haver gente com valor individual, sentido patriótico e capacidade política, o que acaba a dominar as campanhas e os aparelhos são os caciques dos negócios ou da militância, mais os inefáveis "filhos da casa", isto, é os oriundos das "juventudes".
A ausência na III República de uma direita política, com uma agenda de princípios nacionais (quem defende a independência e a identidade da nação, mesmo num quadro institucional europeu?) de defesa dos valores de orientação permanente ligados à moral cristã, e de princípios próprios quanto à economia e sua dimensão social, atirou-nos para esta alternativa diabólica entre as utopias igualitárias e a absoluta confiança nos mercados (patética depois da crise financeira de 2008).
Com esta nova crise política, para além dos protagonistas principais, vem outro espectáculo degradante pela pobreza mental dos intervenientes e das sugestões, (que nestes tempos se multiplicam) o grosso dos debates políticos, jornalísticos e analíticos em volta duma história interminável da crise, das culpas, do que se podia fazer, do que se vai fazer, do que já não se pode fazer.
Vem aí outra vez tudo isto, e mais — em quantidade — do mesmo. Os malabarismos dos que se agarram para ficar onde estão e os daqueles que saltitam para lá chegar, são um espectáculo pouco edificante. Será precisa muita paciência. Que é o que mais falta."

Jaime Nogueira Pinto
in i, n.º590, 28 Março 2011.

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