domingo, 6 de março de 2011

Cabinas vazias e vozes robotizadas

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"Uma das características mais sinistras das sociedades contemporâneas é o desaparecimento do contacto humano numa série de situações do quotidiano.
Ontem estava no Metro à espera do comboio, quando houve um problema técnico na linha. No sistema de som da estação, ouviu-se - em péssimas condições - a gravação da voz de uma senhora dizendo que havia uma avaria, enquanto no quadro luminoso aparecia a comunicação da mesma. Mas nada de esclarecer quanto seria o tempo de espera, se viria ou não um comboio em breve, se mais valia ir embora ou ficar no cais. Num canto do dito quadro, o espaço referente à informação do tempo que teríamos que esperar estava apagado (pensando nisso, nunca o vi aceso desde que me lembro de existirem).
Costumava haver um chefe ou um responsável em cada estação do Metro, instalado numa cabina, a quem nos podíamos dirigir e pedir informações. Só sobrou a cabina vazia. Ficámos dependentes de uma voz gravada num sistema de som cavernoso e de um quadro luminoso que não dá a informação essencial.
Quase tão mau como isto são os funcionários dos call centers das grandes empresas, que nos atendem com um discurso robotizado e cheio de expressões feitas, e estrangeirismos, as mais das vezes incapazes de se afastarem dos guiões que lhes foram distribuídos e comunicarem mais espontanea e naturalmente com o cliente.
Ontem também, uma menina da Meo comunicava-me que uma avaria já tinha sido "reportada". Que saudades dos tempos das assistentes a quem se podia comunicar as avarias e dar dois dedos de conversa."

Eurico de Barros
in Diário de Notícias, 19 Fevereiro 2011.

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